Compreenda, antes de tudo, que esta postagem nada mais é do que uma breve reflexão não sobre os (já reconhecidos) benefícios da tecnologia, mas das mazelas trazidas por esta ao longo das últimas décadas. O aspecto abordado se resume apenas ao contexto dos relacionamentos interpessoais, principal nicho das inovações em termos de rede. O que se pode perceber, ao menos na realidade brasileira, diante do dinamismo e, infelizmente, superficialismo criado pelas sociedades touch screen e universos completamente virtualizados?
Não precisa ir muito além. Basta olhar para a palma da sua mão e perceber que, geralmente, ela brilha e possui acessórios para interagir com tudo em sua volta sem mesmo precisar experienciar aquilo de fato. A ideia de ir, por exemplo, ao Louvre, não é observar com os próprios olhos uma das pinturas mais emblemáticas de Da Vinci, mas tirar uma self da Mona Lisa. Sem objeções neste aspecto, mas a grande questão é: provar visualmente que você esteve perto o suficiente desta obra faz sua experiência aumentar? Sua mente realmente precisa de uma recordação digitalizada para lembrar as sensações sentidas naquele instante? E isto é uma constante na modernidade.
Entenda: não se trata de julgar quem tira uma fotografia, seja do que for. A reflexão é sobre a virtualização dos momentos. No exemplo mencionado, suponha que uma jovem simplesmente se dirigiu até a imagem do museu e simplesmente tirou a self. O que ela fez depois? Bom, ela deu as costas e partiu para outra. Obviamente que há níveis de amadurecimento e que, às vezes, isto é tudo que falta. A apreciação de algo por uma criança não é a mesma de um adulto. Entretanto, e quando estes se confundem? Pessoas supostamente bem vividas interagindo infantilmente com seus eletrônicos, vivendo dentro de pseudo-realidades formatadas por frações de segundo e, pior, tirando conclusões de suas próprias vidas a parti dali. Se foi real, deve estar numa rede social - a rima veio por acaso. Lógico que há milhares de formas de se interagir na internet de forma benéfica, produtiva e realmente útil (convém uma postagem somente sobre isso), mas (e esse "mas" sempre aparece) se permita a reflexão.
Muitas pessoas hoje vivem à flor da pele, buscando êxtase em cada segundo, sendo as publicações em redes sociais o marco oficial de que aquilo realmente aconteceu. Desta maneira, elas terminam buscando preencher seus vazios com momentos - uma coleção de tempos, na verdade. Ou seja, não se trata de viver e esporadicamente, na importância, registrar o que se passa, mas correr atrás (e tirando muitas selfs) daquelas coisas que possam justificar a vida e o contexto no qual você acha que está inserido. Contudo, como dito, são apenas reflexões, motivos para pensar.
24.6.16

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