26.7.25

Um Produto do Medo

Provocar-te-ão até que se entregue às vontades descabidas: assim é como funcionam as falácias em mídias sociais, quando alguém, dizendo-lhe algo verossímil, quer de você um mero click para algo que não precisava, mas que acreditou precisar tão somente por ter dado como aceito um franco engodo.
Maynard Dixon. Formas do Medo.
1. Dizendo-lhe, alguém, que “ou se responde de imediato quando perguntado, ou perderá sua autoridade”, evidentemente sobre algum assunto de próprio domínio, como pode ser uma parte da física ao engenheiro, onde uma leve demora à questão feita sobre tração poderia significar alguma dúvida ou qualquer outra bobagem.

2. Ao certo, as falácias em mídias sociais não têm a ver com conhecimentos ou capacidades (ou as faltas destes), mas tão somente com necessidades de dobrar um público ao funil de vendas de produtos, que são supostas soluções para problemas inventados, pensados apenas para esse sórdido objetivo.

3. No exemplo lançado, observe que uma preocupação falseada se relaciona com uma irreal perda de autoridade tendo em vista uma suposta conduta pouco imediata. Tudo isso requereria indagações apropriadas, pois como uma coisa induz a outra neste caso? Seria a falta de imediatismo um problema danoso à resposta?

4. Certamente, acreditar que quanto mais rápida for uma resposta, melhor poderá ser sua eficácia, não condiz com outra coisa, senão numa grande falácia — e o produto vendido é o risco de perder a hipotética autoridade. Ou seja, vende-se um medo ou ideia disto como forma de lucrar sobre aquilo que pode nem haver.

5. Nada é mais devastador em comparação ao medo, pois este, além de por si, independentemente de tudo, gerar reações emotivas, reativas ou proativas, demove o indivíduo de um comportamento, estacionário ou dinâmico, para um outro em favor da provocação emocionalmente assentida.

6. Assentimento que, por mais que uma vítima dessas falácias se declare plenamente consciente, nitidamente corresponde aos comportamentos relacionados às persuasões empregadas. Mesmo que uma pessoa repare que foi pega pelo medo, pode se recusar a admitir que foi desnecessário tudo isso.

7. Um quadro grave nesse ponto é a admissão do medo, enquanto fato causado, como se fosse verdade primária, hipnotizando-se no intuito de legitimar seu comportamento — diga-se de passagem meramente decorrente — enquanto legitima também o embuste ocorrido, que foi capaz de extrair da pessoa uma reação por instinto.

8. Quando se aborda o que é imediato como se fosse algum método, também há de se perceber sua operação acontecer. Ou seja, se te dizem “seja mais rápido nisto ou perca”, importa que sua reação seja rápida para obter aquela solução, seja um curso, um livro ou qualquer produto efêmero, antes que possa pensar.

9. “Ah, mas era uma oferta sobre coisas importantes” — para quem? Pode até ser, mas, para isto, deve-se optar ou negar de forma realmente consciente. E o que é ter consciência em um mundo de esquizopatas (esquizofrênicos que são psicopatas)? Claro: isto seria mais lírico ao invés de patológico, porém, verossimilmente condizente.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Um Produto do Medo. Enquirídio. Maceió, 26 jul. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/07/um-produto-do-medo.html.

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