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William Powell Frith. Esperança?. |
2. Exemplificando, ao menos no Brasil, quando alguém fala algo acerca de um time de futebol, como “no jogo passado o Grêmio foi ridículo”, torna-se pessoal, ou seja, os gremistas se sentem ultrajados de ridículos. Há algo já colocado em Pensamento de Torcedor — C.I. #01 que seria bom saber antes de continuar lendo este artigo.
3. Não é uma questão de metonímia, onde se troca a obra pelo autor, como se vê em “eu odeio Machado de Assis”, porém, só porque leu na escola um dos romances escritos por ele, geralmente à contragosto, pois isto é mais relativo à sinédoque, onde a parte é tida pelo todo — e a projeção do si em coisa alheia não vêm destas figuras de linguagem.
4. Agora tenha estas verdadeiras limitações cognitivas (decorrentes de castrações intelectuais) como instrumentos para alienação populacional, donde a coisa alheia é a pessoa mesma ali projetada: é a fórmula perfeita para inutilizar a filosofia enquanto instrumento do pensamento e converter a ciência numa falsa religião — como?
5. Se “A” adere a “B” e “C” rejeita “B”, logo “A”, projetando-se em coisa alheia, percebe-se rejeitado por “C”, mas que “C” jamais desejou rejeitar “A”; apenas não concorda com “B”, que pode ser uma ideia ou mesmo um objeto — e o fenômeno desencadeado é relativamente simples de apresentar, sendo difícil pormenorizar seu desencadeador.
6. Observe que se tal fenômeno ocorresse meramente por uma adesão com base na razão, bastaria, exempli gratia, provar a falha da coisa alheia no intuito de corrigi-la ou renunciá-la se inexistisse capacidade de correção, mas não é o que acontece na projeção explicada, pois todo vínculo já se observa por aspectos emocionais.
7. Significa que, por mais que racionalmente se prove a falha de um pensamento, no caso, ainda assim usando os meios adequados aos contextos (se filosóficos ou científicos), aquele que aderiu à coisa alheia já ignora se há ou não uma validade naquilo que pensou ou admitiu pensar por adesão às ideais de outros, valendo a leitura desses artigos: 8. Assim sendo, é a própria projeção de si mesmo em coisa alheia sintoma da adesão, não por uma conclusão racional, mas sim por uma influência tal que seu domínio se dá para além do controle dos sentidos, fazendo com que respostas emocionais suplantem o pensamento e limitem as ações aos limites da percepção da realidade estimulada.
9. Ou seja, os fatos se traduzem na medida em que os estímulos são percebidos, mas sem a orientação apropriada dos sentidos é que a projeção de si mesmo em coisa alheia acontece, pois é a percepção desordenada que vincula o sujeito à ideia ou objeto de forma emocional, pessoalizando o que é impessoal e causando deturpação na realidade.
10. Não é que o aspecto emocional devesse ser suprimido em um debate, pois isso seria reduzir o homem à máquina. Contudo, se as palavras trocadas sobre uma coisa alheia forem percebidas pelo debatedor nela projetado como ofensa à honra, não à toa é possível perceber uma mudança de postura quase abrupta e geralmente disruptiva.
11. Então sobre a coisa alheia o debatedor se encarna e tudo que se diz sobre ela passa a afetá-lo também, momento em que ao invés de debater as ideias ou mesmo os objetos, apenas traz sua pessoa ao primeiro plano e trata absolutamente tudo como um caso pessoal no intuito de cessar a “ofensa sofrida” — refletida na desordem dos sentidos.
12. Essa “ofensa sofrida” significa “gosto tanto disso que não vou deixar de aderi-lo, mesmo que provem estar errado”, destacando-se aspectos emocionais que revelam dependências e incapacidades em relação aos próprios sentidos em desordem, ao ponto de sequer conseguir separar seu próprio ser daquilo no qual se impinge por adesão. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Projeção do Si em Coisa Alheia. Enquirídio. Cascais, 28 jan. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/01/projecao-do-si-em-coisa-alheia.html.
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